Cá entre nós - Falando sobre Humor
Em 2008, o ator Wagner Moura publicou uma carta sobre o Programa Pânico na TV. Agora a carta ganhou as páginas do Facebook. A carta do ator leva a vários questionamentos sobre o papel da TV na vida das pessoas: Até que ponto "aquilo" é humor? E principalmente, até que ponto o telespectador é capaz de gostar, e até preferir, presenciar humilhações, chateações, "bullying" e achar tudo bacana, "bem humorado"? Será que sabemos usar o poder de controlar a TV, já que temos um controle remoto nas mãos pra mudar de canal? Ou será que somos nós, os controlados?
Navegando por aí, encontrei o blog do conceituado filósofo paulista Paulo Ghiraldelli Jr. que em seu blog www.ghiraldelli.pro.br publicou sobre o assunto, "Ainda há os que não sabem ver TV". Eu diria, que trata-se de uma verdadeira defesa do Programa Pânico. O filósofo diz que "Artistas, políticos, jogadores de futebol etc., precisam da fama para viver. E a fama tem esse preço. O preço de passar por situações difíceis? Não! O preço de ter de passar por tudo, de forma escancarada, uma vez que a fama pede mais fama ainda, por meio da fofoca e da invasão de uma privacidade que já foi perdida." Ele ainda acrescenta: "O fato do brasileiro comum não conseguir entender isso é ficar com dó de certas celebridades, quando elas são postas na berlinda, como foi o caso do Wagner Moura com o Pânico, em 2008, é até bom. Mostra nossa boa índole. Mas, quando essas pessoas que gostam do Wagner Moura – e eu sou uma delas – começam a se agrupar no facebook (o ocorrido com Wagner, em 2008, andou repercutindo agora no Facebook, por conta de republicação do seu manifesto) para cobrar apoio a tais celebridades, aí dá para perceber que elas ainda vivem num mundo pré-Gutemberg. Nem a imprensa chegou nelas ainda. TV e mídias eletrônicas? Nem pensar. Elas usam, mas não as entenderam"...e acrescenta: " Agora, o problema me parece ser que a baixa escolaridade do brasileiro e, enfim, a escolaridade capenga, tem feito nosso povo não entender certos mecanismos simples do mundo moderno..."
E agora vem o X da questão: Qual é sua postura diante disso? O Pânico é humor? O que Wagner Moura e outros artistas vivenciam no Pânico é somente o preço da fama? Fama exige que o artista "passe por tudo, de forma escancarada"? O que você pensa disso? E se fosse você, o artista que conquistou espaço, que ganhou fama pelo seu trabalho, à passar por situações como essa? De que forma você iria encarar?
Anna Jailma - jornalista e blogueira ( que não ri com Pânico, nem com Mução)
Segue abaixo, trechos da carta do ator Wagner Moura, sobre Pânico na TV:
“Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo “que coisa horrível” (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.
O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador?
... O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.
Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente?
... Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados..."
FONTE: Por Anna Jailma - jornalista e blogueira, em http://aflordaterra.blogspot.com.br/
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