Plantation do séc. XXI
Por Cristiano Catarin
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Para garantir a ocupação e proteção das novas terras encontradas (que mais tarde receberiam o nome de Brasil), Portugal traçou, na metade do século XVI, um plano de colonização por meio de capitanias hereditárias, uma espécie de “terceirização de trabalho” sem custo para Metrópole lusitana. Das quinze capitanias estabelecidas, apenas duas prosperaram: São Vicente e Pernambuco. Aproveitando-se do clima favorável e de grandes extensões de terras, o sistema Plantation (cultivo de cana-de-açúcar para fabricação do açúcar) de exploração (totalmente voltado para exportação) foi bem sucedido até meados do fim do século XVII.
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O ciclo do açúcar contribuiu favoravelmente às intenções portuguesas, pois tratava-se de um produto extremamente valorizado no mercado europeu. Com mão-de-obra escrava, os engenhos de açúcar, especialmente os localizados em Pernambuco, produziam quantidade capaz de carregar no início do século XVII cerca de 130, 140 naus todo ano. Todo este açúcar era refinado e comercializado pelos holandeses, tidos como especialistas na arte do comércio.
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O trabalho no engenho era basicamente realizado por negros vindos da África. É verdade também que alguns personagens que desempenhavam determinadas atividades nos engenhos eram considerados homens livres, como, por exemplo, o mestre de açúcar (responsável por dar ordens a negros que agitavam o mel – suco muito doce obtido da cana-de-açúcar). A “casa de purgar” (local onde branqueava o açúcar) também era dirigida por um mulato livre.
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A produção açucareira entrou em decadência no final do século XVII. Portugal precisava dos recursos advindos da colônia para manter os luxos e extravagâncias da Metrópole e também manter em dia as dívidas contraídas especialmente com os ingleses.
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A EXPLORAÇÃO CONTINUA...
O século XVIII foi literalmente o século de ouro para Metrópole, pois com a exploração do precioso minério encontrado em abundância na região de Minas Gerais, Portugal conseguiu manter sua nobreza no mundo das riquezas por um longo período.
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Em meados do século XIX deu-se o chamado ciclo do café no Brasil, era a cafeicultura a grande força comercial produzida no país, agora independente dos portugueses. A produção cafeeira impulsionou definitivamente o processo de industrialização brasileira que contou com o desenvolvimento, nesta mesma época, da malha ferroviária.
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Como estamos notando, o Brasil já foi cenário de diversos ciclos produtivos de exploração, dentre os mais destacados estão: o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o ouro, o café, etc. Na contemporaneidade temos: a soja, o milho, o algodão..., e “novamente”, a cana-de-açúcar, agora como principal fonte de matéria-prima para produção do Etanol – que é considerado o biocombustível de maior produtividade no mundo.
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Com a política de alta produtividade automobilística, o século XXI, neste respeito, está representando ao Brasil uma espécie de retorno ao modelo estabelecido no século XVI, com o sistema de grande produção canavieira que está comprometido com o fornecimento da principal fonte par produção do Etanol. O álcool de cana-de-açúcar do Brasil é o biocombustível de maior produtividade mundial. Entre os anos de 2000 e 2006 houve um aumento nas exportações do produto de expressivos 3000%; as áreas destinadas ao cultivo da cana aumentaram cerca de 43%. Atualmente, o setor canavieiro “emprega” cerca de 3,5 milhões de pessoas no Brasil.
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O significativo aumento havido na produção de automóveis denominados bicombustíveis no Brasil impulsionou a produção e exportação do etanol fazendo com que tal produto seja tão importante para economia brasileira quanto a carne, a soja, o milho, etc.
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Todo este “panorama histórico” foi traçado para chegarmos numa impressionante realidade dos trabalhadores que hoje são responsáveis pela colheita de grande parte da safra canavieira no Brasil, os chamados bóias-frias. Respeitando as devidas proporções, não podemos negar de que existem semelhanças no cotidiano do trabalho em que o bóia-fria esta inserido, em comparação aos escravos que trabalhavam nos engenhos de açúcar no período colonial brasileiro.
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As similaridades existem. No sistema plantation e no atual sistema produtivo da cana-de-açúcar são utilizadas grandes extensões de terras para tal finalidade. Nos engenhos o trabalho (árduo, exaustivo e não reconhecido) era realizado por escravos, nos canaviais do Brasil contemporâneo os denominados bóias-frias desenvolvem tarefas similares e, com o avanço da tecnologia, possuem uma rotina diária ainda mais intensa. Grande parte de toda produção é destinada ao comércio externo, como fora feito na época colonial – economia de exportação. Não é difícil encontrarmos reportagens denunciando as péssimas condições de trabalho desses trabalhadores. Com o avanço tecnológico, o bóia-fria tem de esforçar-se ainda mais, pois grandes máquinas, como as colheitadeiras, são empreendidas no processo de produção do Etanol.
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Parece que existe uma “vantagem” de ser bóia-fria em comparação ao trabalho escravo desempenhado nos séculos, XVI, XVII, XVII, etc. Os bóias-frias ganham um salário mensal de aproximadamente R$ 550,00 quando homens, e inferior a R$ 400,00 quando mulheres. Este valor mensal é dado em troca de aproximadamente dez toneladas de cana colhidas diariamente.
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Muitas foram às regiões que deixaram de produzir outros gêneros agrícolas para ceder espaço ao cultivo da cana. Criadores de gados também cederam suas terras para produção canavieira.
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Todo este “giro” feito no processo de colonização (exploração) do Brasil serve para ilustrar que a História é mutável e não estagnada como alguns entendem. A produção do Etanol (álcool) depende da cana-de-açúcar como principal matéria-prima. Este processo produtivo conta com toda tecnologia do século XXI e, por outro lado, conta também com mecanismos de interesses utilizados no passado.
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Talvez próximo de uma denúncia, a apresentação destas palavras reflita uma realidade, que costumeiramente fica escondida e distante dos “braços da providência”.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Atualidades
Che Guevara - Uma aula de história deve servir para desconstruir mitos.
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Claudio Recco
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Um mito se descontrói com uma grande reflexão sobre seu papel na história, percebendo o contexto em que viveu e qual importância teve para as principais transformações que ocorreram em sua época.
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Um mito se desconstrói analisando as condições objetivas em que suas ações ocorreram, compreendendo as forças sociais e políticas que existiam em dado momento, assim como os interesses econômicos envolvidos.
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A discussão sobre um mito torna uma aula de história significativa, pois implica reflexão e não apenas fazer uma lista de grandes realizações de um “grande homem”. Os alunos se envolvem com uma discussão sobre a “importância de Napoleão” e apenas decoram uma aula com as “realizações de Napoleão”.
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A matéria da revista Veja sobre Che Guevara é uma das peças mais retrógradas que podemos ver na imprensa nos últimos tempos, não pela opinião dos autores sobre o comunismo ou sobre Che, os medíocres autores podem ter a opinião que quiserem sobre qualquer coisa, mas daí a achar que todos os brasileiros devem ter a mesma opinião...
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Nesta semana ouvi.. “todos sabem que Veja é uma revista fascista...”.
Não, as pessoas em geral não sabem.
Não sabem, e muitos acreditam nas “informações produzidas” pela revista.
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A revista conseguiu – mais uma vez – dar uma lição de péssimo jornalismo, com a falta de ética básica para uma reportagem e contribuiu para reforçar os problemas do ensino da história no país.
Será que “liberdade de imprensa” significa: “eu tenho o direito de escrever qualquer coisa, sobre qualquer assunto” ???
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Afinal, um mito se descontrói com análise e reflexão, coisa que os jornalistas da Veja não tiveram capacidade de fazer.
Para os críticos da revista, nenhuma novidade; para seus leitores assíduos e defensores intransigentes, um atestado de alienação, pois passaram a semana vomitando os argumentos lidos, sem a capacidade crítica de pensarem por si só.
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Não é de hoje que parcela significativa da “grande imprensa” (sic) aposta da despolitização e na alienação de amplos setores da sociedade. Porque uma revista deveria contribuir para o povo refletir?, Não, é mais interessante contar a verdade pronta, para que as pessoas apenas repitam.
Ao voltarmos para as salas de aula, podemos resgatar com nossos alunos o papel do jornal O Estado de S Paulo na República Velha, ou da Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda para a crise do populismo e ainda sua importância para o golpe militar de 64
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