CABANADA e CABANAGEM
Por Claudio Recco
CABANADA
A Cabanada foi uma das primeiras rebeliões ocorridas no Brasil no período regencial, de duração significativa, entre 1832 e 1835, abrangendo regiões das províncias de Pernambuco e de Alagoas. No entanto é um movimento pouco retratado nos livros didáticos e, portanto desconhecido da maioria, provavelmente por ter características peculiares, eventualmente opostas à da maioria dos movimentos da época.
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Ao contrário dos principais movimentos que ocorreram em Pernambuco e que deram a província uma marca de “mais avançada”, a rebelião teve caráter conservador, pois defendia o retorno de D. Pedro I ao Brasil.
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Desenrolou-se na zona da mata e no agreste povoada por sertanejos ou mestiços de branco e índio, por escravos negros e por fazendeiros e senhores de engenhos de açúcar que formavam a elite local, dominando e controlando os grupos populares. Esse é um dos fatores explicativos da postura política do movimento, na medida em que essa elite agrária apoiou os movimentos que exigiram a renúncia de D. Pedro I, ao contrário da elite urbana do Recife, formada principalmente por mercadores de origem portuguesa partidários do imperador.
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Na medida em que as camadas populares percebiam os grandes proprietários como responsáveis pela situação de pobreza e miséria, se colocavam contra as posições políticas dos mesmos, instigados por aqueles que haviam perdido privilégios com o fim do Primeiro Reinado.
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Liderados por Vicente Ferreira de Paulo, cerca de mil homens se reuniam na região denominada Panelas de Miranda, porém, de início, sem qualquer objetivo político definido, limitando-se apenas a viver de saques às fazendas e da pilhagem. Em contrapartida, os proprietários recorrem aos novos governantes da Província para manter a ordem tradicional. Um conflito que nasceu da pobreza passou a ter conotação política, na medida em que os populares se organizaram para resistir a repressão.
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Assim, no final julho 1832, na região de Passo, D.Pedro I foi proclamado Imperador do Brasil, fazendo com que o problema criado tomasse maior vulto, forçando o governo a enviar tropas para a região, para reprimir o movimento considerado restaurador.
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Depois de quase quatro anos de luta, chegou a Panelas o Bispo D. João Marques Perdigão, com o objetivo de pacificar a região. O Bispo obteve a rendição dos sublevados com a condição de serem anistiados, pondo fim a “Guerra dos Cabanos".
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Além disso, obteve da Assembléia Provincial de Pernambuco ajuda material aos cabanos, como instrumentos de trabalho, remédios e roupas. Dessa maneira os índios retornaram a suas aldeias, assim como os lavradores retomaram seus trabalhos na antiga estrutura fundiária, porém aos negros só restaria a volta ao cativeiro, situação que o obriga a se manter no interior isolado, em pequenos quilombos. Nesse contexto é que se organizou a Guarda Negra, que persegue os desertores, responsáveis pela fraqueza do movimento, e promove assaltos as fazendas, para saqueá-las e promover a libertação de escravos. Essa situação de belicosidade no interior de Pernambuco prolongou-se até 1850, quando da promulgação da Lei de Terras que possibilitou a expansão do latifúndio e devido a prisão de Vicente Ferreira de Paula.
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Na serra dos Timóteos, no Sítio Cafundó e em vários outros lugares ainda se encontra muito material de guerra da época, abandonado ao termo da campanha”.
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CABANAGEM
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Um dos mais duradouros movimentos sociais do período regencial foi a Cabanagem no Pará, no entanto, datas diferentes são utilizadas como referências para sus eclosão e para seu desfecho, abrangendo praticamente toda a década de 30.
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O termo Cabanagem se origina das habitações – cabanas – humildes, na beira dos rios, nas quais vivia a população pobre, em particular indígenas e mestiços. Parte dessa população já havia participado da Guerra de Independência do Brasil e dos diversos conflitos que se desenvolveram na província na década de 20, marcados por forte sentimento liberal e anti-lusitano. Mesmo com o reconhecimento da Independência, a elite mercantil de origem portuguesa se manteve no controle político e econômico da região.
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Essa situação foi responsável por uma série de pequenas revoltas até 1829, conhecidas como “Quarteladas de Belém”, reação popular contra os privilégios e desmandos lusitanos.
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Percebe-se que a luta dos paraenses tem um sentido socioeconômico e político, sendo que as mudanças políticas, superestruturais e que deveriam ocorrer com maior rapidez não foram realizadas. Ao contrário, mesmo após a abdicação de D. Pedro I, o governo regencial manteve a prática de nomear os governantes das províncias, descontentando tanto as elites locais como as camadas mais pobres – tanto da cidade quanto do campo.
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As primeiras agitações importantes ocorreram em 1832 sob a liderança de Batista Campos, que dominou a comarca de Rio Negro na região do Amazonas e impôs sua política ao governo da província. A reação do Rio de Janeiro foi uma política repressiva, que na prática de novo ânimo aos rebelados e, em janeiro de 1834 iniciou-se a Cabanagem, que depôs e executou Lobo e Silva, presidente da província, e outras autoridades locais.
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O primeiro governo cabano foi liderado pelo fazendeiro Clemente Malcher que declarou-se fiel ao imperador ainda menor de idade e passou a reprimir o movimento popular, sendo deposto e fuzilado. O substituto Francisco Pedro Vinagre adotou política semelhante, procurando resguardar o poder para si, negociando diretamente com a regência, numa postura que traía o movimento cabano.
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O governo regencial, bastante temeroso com o desenrolar dos acontecimentos, enviou um grande contingente militar a província, comandado por Manuel Jorge Rodrigues, que tomou o controle de Belém, com a ajuda do próprio Francisco Vinagre, traindo pela segunda vez os cabanos.
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A reação dos cabanos partiu do interior e organizados e armados, retomaram a capital e proclamaram a República e o desligamento da província do restante do império. Os cabanos dominaram a província durante um ano; em maio de 1836 chega grande esquadra a região e inicia-se violenta repressão, forçando os cabanos a abandonar a capital e a recuar para o interior, onde focos de lutas se mantiveram, assim como a política repressiva adotada pelo governo, até 1840.
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Incapazes de resistir os rebeldes foram massacrados. Ao final do movimento, cerca de 30mil homens haviam morrido nos diversos conflitos promovidos por mercenários e pelas tropas governamentais.
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Chegava ao fim a Cabanagem que, segundo o historiador Caio Prado Júnior, "foi o mais notável movimento popular do Brasil... o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade.
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Apesar de sua desorientação, da falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe contudo a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva de poder."
domingo, 4 de janeiro de 2009
Brasil Colônia
Bolos e docinhos
EXTRA! EXTRA!
PROIBIDA A PRODUÇÃO DE BISCOITOS, BOLOS E DOCINHOS EM LISBOA
Por Cristiano Catarin
O ano de 2008 está sendo especial para a historiografia brasileira em relação à temática da transferência da família real portuguesa ao Brasil ocorrida em 1808. O bicentenário deste importante episódio da História proporcionou um salto no debate historiográfico, desenvolvendo e enriquecendo diferentes abordagens que envolvem todo o processo histórico como: os antecedentes, os preparativos, a própria viagem e a chegada e permanência de uma corte européia na América entre 1808 e 1821.
Entretanto, nossa parada será os últimos meses do ano de 1807, em Lisboa, momentos primorosos que antecederam a tão discutida atitude tomada e realizada por d. João em 29 de novembro, quando então a família real, tudo e todos que significassem o aparelho político, administrativo e até religioso da corte portuguesa foram lançados ao mar rumo ao Brasil.
O último trimestre de 1807 foi tomado por grandes modificações no cotidiano da cidade de Lisboa, em Portugal.
De um lado, havia uma combinação de práticas religiosas e demonstrações de preparos militares, de outro, falatórios, boataria e intrigas, a cidade portuguesa estava refém das tensões que rondavam as decisões e indecisões do príncipe regente d. João quanto a escolha de qual posição tomar frente às pressões exercidas em terra, por meio das ameaças do então imperador francês Napoleão Bonaparte, e pelo mar, pela Inglaterra, detentora do maior poderio marítimo da época.
A realidade dos fatos causava desconserto de idéias em d. João, e esse sentimento do príncipe aumentava com os boatos que pairavam pelas ruas de Lisboa, como o exemplo de que diziam que se o príncipe regente de fato fosse lançar-se ao mar com destino ao Brasil, sua embarcação seria “engolida” pelas águas e ninguém iria sobreviver.
A cidade portuguesa estava agitada, sendo palco de rezas e crenças e, ao mesmo tempo, de muitas preocupações de combate de encontrar maneiras para o melhor preparo militar. Toda a agitação acabou alcançando diversos setores de Lisboa. Toda instabilidade e insegurança acabaram atingindo o mercado local da cidade, que naquela época apresentava escassez de mantimentos, especialmente a falta de carne e de trigo.
Esta situação fez o governo baixar um edital regulando o consumo da farinha, restringindo seu uso exclusivamente para produção de pão, proibindo, portanto, a produção de biscoitos, bolos e docinhos. Um verdadeiro racionamento de trigo estabeleceu-se em Lisboa. Os famosos pastéis de Belém, famosa iguaria da culinária portuguesa, foram diretamente atingidos pelo edital disposto em 16 de novembro de 1807.
A escassez de víveres representa o tamanho das dificuldades e das incertezas que faziam parte dos portugueses naquela época. Afinal, Portugal estava prestes a demarcar um fato inédito na História, pois, até aquele momento, nenhuma outra monarquia européia havia se transferido para o outro lado do Atlântico.
Para sabe mais:
SCHWARCZ, Lilia Moritz. A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis: do terremoto de Lisboa a independência do Brasil. Colabs. Paulo César de Azevedo, Ângela Marques da Costa: Companhia das Letras. São Paulo, 2002.
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