Meu Rincão

Minha terra não é de todos;
Apenas de quem a ama!
Minha terra não tem tudo;
Apenas o essencial!
Minha terra não tem pressa;
Mas, às vezes, corre!
Minha terra não é grande;
Apenas suficiente!
Minha terra é rica:
Cultura, vanguarda, tradição...
Minha terra perfeita? É, não!
É quase humana, mãe!
É mutante:
Cinzenta , estorricada,
De repente, verde, encharcada!
É sensível, persistente, alegre...
Minha terra enche-me de saudade
Sua água revigora-me
É renovação!
São, do Sabugi,
João.

PR_SJS

domingo, 11 de maio de 2008

Le Cachacier II

A História da Cachaça
Encontrei esta História no site da Cachaça Gabriela, produzida em Ribeirão Preto-SP, e resolvi publicar, pois tornei-me um apreciador – PASMEM – por incentivo de um GRINGO (estado-unidense), Mr. Robert, radicado em Teixeira-PB.
Gostei tanto que passei a dedicar-me ao desenvolvimento de técnicas ARTESANAIS próprias de envelhecimento do nobre, porém estereotipado, produto nacional. Mas isso é assunto para outro texto futuro: Le Cachacier!
Duas palavras importantes para a suposta origem da denominação CACHAÇA são, assim, explicadas pelo Aurélio: CACHA [Dev. de cachar1.] S. f. 1. Ant. Manha, estratagema, ardil. 2. Lus. Notícia dada em primeira mão num jornal, em noticiário radiofônico, de televisão, etc. * Fazer cacha. 1. Envidar (1) sem ter jogo para ganhar; blefar. CACHAR [Do fr. cacher.] V. t. d. Desusado. 1. Esconder, disfarçar, ocultar, tapar. V. int. 2.Armar ciladas; atraiçoar. 3.Praticar um ato às ocultas.

Todo começou com muita magia...

Com os egípcios antigos se recolhendo em ambientes fechados para inalar o vapor de líquidos aromatizados e fermentados... em busca da cura de vários males. Alquimistas chineses, por sua vez, teriam sido os primeiros a destilar uma bebida. Entretanto, a proeza de obter a ácqua ardens foi registrada na Europa, no auge do Império Romano.

No Tratado da Ciência, Plínio, o Velho (que viveu entre os anos 23 e 79 d.C.), conta como capturou o vapor da resina de cedro, que saía do bico de uma chaleira, usando um pedaço de lã. Ele torceu o tecido e obteve o que chamou de al kuhul. Bem, daí em diante a água que pega fogo chegou ao conhecimento dos boticários franceses (já na Idade Média). Os boticários passaram a fabricá-la em pequenas quantidades chamando-a de eau de vie (água da vida) e receitando-a como elixir da longevidade.
E a cachaça? Foram os árabes que se apoderaram da fórmula da aguardente e desenvolveram os primeiros equipamentos para a destilação, semelhantes aos equipamentos de alambiques que conhecemos hoje. O produto obtido com essa tecnologia passou a se chamar al raga, dando origem ao nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: arak (mistura com licor de anis). E não é necessário dizer que a tecnologia dos árabes se difundiu pelo velho e pelo novo mundo.
No século XVII, as aguardentes de cereais, de uva e de suco fermentado de outras frutas romperam fronteiras e apareceram na pauta de exportação dos países europeus. Na Rússia, centeio virou vodca. Na Itália, alguém fermentou e destilou o mosto produzido pelo bagaço da uva e fez a grappa. Na Alemanha, cereja deu origem ao kirsh. Na Escócia, transformaram cevada maltada em uísque. No Japão, arroz em saquê. E em Portugal, uva em bagaceira.No Brasil colonial, da alquimia com a cana-de-açúcar trazida pelos portugueses do sul da Ásia, nasceu a cachaça.
Batismo do nome

Extração do caldo de cana pelos escravos, usado para adoçar a bebida "capilé" no século XVIII, no Rio de Janeiro, retratada pelo artista francês Jean Baptiste Debret(1768-1848)

Na verdade, os primeiros colonizadores desta terra apreciavam a bagaceira portuguesa e o vinho do Porto. A agricultura dos canaviais, inicialmente, destinava-se apenas à produção de açúcar e rapadura. Mas, num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, alguém resolveu experimentar a cagaça — aquela coisa espumosa, esverdeada e escura que se forma durante a fervura da garapa, nos tachos de rapadura. De aparência repugnante, ela era retirada com escumadeiras dos tachos e jogada nos cochos de madeira ao relento. Aí, o surpreendente. A cagaça fermentava dentro dos cochos e se transformava num caldo ao alcance dos animais que lá iam bebê-lo mui prazerosamente. Se não fazia mal aos bichos — muito pelo contrário, parecia alegrá-los —, por que não experimentar só um pouquinho? Afinal, a cagaça era limpa se comparada com o cauim (bebida indígena preparada a partir da mandioca ou milho mastigados e cuspidos no caldeirão de barro onde se processava a fermentação). Moral da história? Quem provou, gostou. Do gosto e mais ainda do efeito da bebida do cocho, passando a descoberta adiante.

Casa Grande

Dá pra imaginar escravos recolhendo a espuma da garapa da rapadura em uma gamela à parte, para seu próprio deleite. De boca em boca, a notícia deve ter se espalhado pelo engenho com muita animação. Aprovada pelos senhores e liberada para a senzala, logo logo a cagaça começou a ser destilada. Pudera. Experimentada na casa grande, despertara uma cisma: se do mosto fermentado da uva se faz a bagaceira, da cagaça de cana-de-açúcar também se pode fazer aguardente. Então, olha aí o nascimento da cachaça. A aguardente brasileira!

No início, boa parte de nossa aguardente era feita às escondidas. Nenhum senhor de engenho queria saber de escravo ou trabalhador se alcoolizando em serviço. Porém, bastava um artesão (homem livre ou escravo) encarregado de fazer e consertar os tachos de cobre querer fabricar um alambique rudimentar. Se faltasse cobre, nenhum problema, fazia-o de pedra-sabão ou barro cozido. Destilava? É o que importava. Se destilava, estava feito. Tinha, isso sim, de haver o cuidado de “cachar” muito bem o alambique e a aguardente. Cachar é sinônimo de ocultar. E a palavra cacha quer dizer manha, estratagema, ardil. Uma bela hipótese para o nome da cachaça. Se no começo a aguardente brasileira deitava e rolava às escondidas, sua produção exigia muita manha. Astúcia... Uma grande cacha. Ou melhor, uma cachaça! Então tá. Cachaça pode ter vindo do superlativo de cacha. Ou não? De manha em manha... Hoje, cachaça no sentido figurado significa paixão, mania por pessoa ou coisa. Como escreveu Mário Souto Maior, gostoso é poder dizer, com toda a ternura a quem se quer bem:
- Minha cachaça é você! Fonte: Cachaça Artesanal – Do alambique à mesa. Editora Senac

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